quarta-feira, fevereiro 28, 2007

A Revelação

O caso da Universidade Independente tem tido algumas particularidades bastante interessantes. Sem entrar muito na questão da lavagem de dinheiro, das acusações de tráfico de diamantes e outras coisas mais, aquilo que me chamou a atenção foram dois pequenos pormenores.

Em primeiro lugar, o presidente da Associação Académica (?) da Universidade Independente, o senhor Hermínio Brioso. Lembro-me deste tipo desde o tempo em que estive na associação de estudantes, em 2001. Era já presidente e, ao que parecia, era um histórico dos encontros nacionais de direcções associativas. Sendo que a Universidade tem apenas 14 anos, manter o mesmo presidente durante mais de metade do seu tempo de existência não é uma marca propriamente saudável embora seja indicativa do tipo de aproveitamento pessoal que se faz das estruturas estudantis. Qualquer dia, já se concorre à Universidade não para tirar uma licenciatura mas para conseguir um tacho na associação que dê para, pelo menos, uns 20 anos de chupismo. Hermínio está quase lá, fazendo fé que a Independente não acaba de uma vez por todas. Seria uma pena...

Depois, a outra peculariedade foi dada pelo reitor da Universidade. Numa entrevista, quando lhe perguntaram sobre a sua relação com Rui Verde, o presidente da entidade que gere a universidade, ele afirmou:
"Eu sempre fui leal ao Dr. Rui Verde. Quando ele acabou a Universidade, o pai dele veio pedir-me para lhe arranjar um emprego. Ele queria ficar na católica mas não conseguiu e então eu disse-lhe para vir trabalhar comigo na Autónoma".

Acho que ficou bem claro como se forma o corpo docente das Universidades privadas.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Eu Vou Ser Como a Toupeira
(José Afonso)

Eu vou ser como a toupeira
Que esburaca
Penitência, diz a hidra
Quando à seca
Eu vou ser como a gibóia
Que atormenta
Não há luz que não se veja
Da charneca
E não me digas agora
Estás à espera
Penitência diz a hidra
Quando à seca
E se te enfias na toca
És como ela
Quero-me à minha vontade
Não na tua
Ó hidra, diz-me a verdade
Nua e crua
Mais vale dar numa sarjeta
Que na mão
De quem nos inveja a vida
E tira o pão

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Lasciate ogni speranza voi ch'entrate

domingo, fevereiro 11, 2007

Estou muito, muito feliz...

sábado, fevereiro 10, 2007

Dia de Referendo

É hoje! É hora...

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Sondagens

Último dia de campanha. As sondagens parecem dar uma vitória ao Sim mas convem manter as cautelas do costume.

* Correio da Manhã(Sondagem da Aximagem):SIM: 52,6%NÃO: 41,5%Abstenção: 44,8%

* Público, TVI, Rádio Clube Português(Sondagem da Intercampus):SIM: 54%NÃO: 33/Abstenção: 11%

* Sol(Sondagem da TNSeuroteste):SIM: 52,8%NÃO: 37,1%Abstenção: 40,5%

* Expresso, SIC, Rádio Renascença(Sondagem da Eurosondagem):SIM: 53,1%NÃO: 46,9%Abstenção: 43%

* RTP, Antena1, Jornal de Notícias(Sondagem da Universidade Católica):SIM: 58%NÃO: 42%Abstenção: 18-32%


O único país que, até hoje, despenalizou o aborto por intermédio de um referendo foi a Suiça. No entanto, à semelhança do que aconteceu nos países onde se fizeram referendos sobre este tema (Itália, Irlanda e alguns estados norte-americanos), foram colocados dois projectos alternativos à consideração dos eleitores. Ou seja, a dicotomia Sim/Não foi alargada para a competição entre dois projectos alternativos, um de restringir a lei e outro para a liberalizar. Também por esta razão, esta questão é tão difícil de tratar. Dizer Sim ou Não faz com que se manipulem até aos limites do aceitável o significado de cada resposta, como temos vindo a assistir neste última semana de campanha.

A eventual vitória do Sim configura o indicador mais forte de secularização. Existe um estudo que relaciona a vigência de leis restritivas a países de raiz católica e com altos níveis de religiosidade. Não por acaso, Irlanda, Polónia, Malta e Portugal partilham todos estas condições e, consequentemente, mantêm as leis mais restritas a nível europeu. Por isto, por muito que se diga que o aborto não é uma questão religiosa, não deixa de ser a prova concreta de um processo de modernização e secularização que começou muito tarde. A prática religiosa, ao nível da identificação partidária e posicionamento ideológico, continua a ser um dos mais fortes indicadores do sentido de voto dos eleitores portugueses.

Assim, as sondagens não podem deixar ninguém descansado. Sabemos que o Sim tem vantagem, essencialmente construída nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e no Sul do País onde, contudo, o desafio maior é representado pela abstenção. Por outro lado, a zona Centro e Norte será por inteiro dominada pelo voto Não. Voltamos à imagem de um país dividido por uma clivagem religiosa que opõe Norte e Sul, embora o efeito metrópole (para citar a teoria do Prof. Villaverde Cabral) seja o factor desequilibrador para o Sim. Mais do que Lisboa, o Porto representa o swing state desta votação, muito à semelhança do que acontece nos Estados Unidos. Partindo do princípio que a abstenção será menor nestes locais, o Sim parte com mais vantagem que em 1998. No entanto, as conclusões retiradas deste referendo mantêm-se para o actual. Nesta questão em particular, a predisposição para a abstenção, mais elevada para o voto na direita, é invertida a favor da maior tendência abstencionista do voto no Sim e correlacionada com o voto na esquerda.

Por muitas voltas que possamos dar, as conclusões finais apontam sempre no mesmo sentido. Mais importante que tudo é mesmo o voto na caixinha.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Está tudo dito

A campanha aproxima-se do fim. Infelizmente, os indicadores não são os mais favoráveis para o Sim que à medida que que os dias passam perde cada vez mais nas intenções de voto (vejam aqui).

A última proposta completamente fantasista e demagógica do Não pode, eventualmente, ajudar a adensar ainda mais a dúvida e fazer com que saia vitorioso. De facto, já não há limites de decência. Nove anos depois do último referendo, repito, 9 anos, todos os partidos que apoiam o Não tiveram oportunidade de fazer o que agora apregoam. O PSD, mesmo sem posição oficial é o Joker dos movimentos do Não, e o CDS-PP nunca tiveram qualquer intenção de despenalizar o aborto. E sabem que mais? Vão continuar a não ter. Se o Não vencer, o Governo (tal como Socrátes já afirmou e a meu ver bem) não vai promover alterações a uma lei que tem a maioria da sociedade portuguesa a favor da sua manutenção. O CDS-PP e o PSD, que subjugam por completo os direitos das mulheres aos seus jogos partidários, vão pressionar o Governo a fazer uma alteração, em sede de código penal, mesmo sabendo que este procedimento não tem o mínimo de legitimidade necessária. Assim, trata-se de uma Win Win situation: a lei fica como está e ainda ganham alguma preponderância na falaciosa proposta de resolução de um problema que eles próprios perpetuam. Ribeiro e Castro ainda hoje deixou uma pista sobre o que nos espera.

Ribeiro e Castro explicitou ainda algumas das dez medidas propostas pelo CDS-PP para combater "a chaga do aborto clandestino". Estas passam, entre outras coisas, por "mostrar à evidência como é a vida humana antes do nascimento"(...)
Público, 5 de Fevereiro 2007
Não dá vontade de rir?

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Pusilânimes

Afinal eles até têm uma posição. Mas sabem bem demais que se assumissem pelo Não facilitavam o caminho à despenalização. Quanto mais marcado o debate ideológico e a identificação partidária, mais os eleitores se identificam com os partidos em que normalmente votam. Antes de tudo o resto, é estratégia...