segunda-feira, março 20, 2006

Caixa de Pandora

Em quem acreditar?



Jalal Talabani (Presidente do Iraque) rejeitou ontem que o Iraque esteja a viver uma guerra civil, mas admitiu que ficou perto disso com o ataque de 22 de Fevereiro contra uma mesquita xiita em Samarra.









Iyad Allawi (Líder do primeiro governo de transição iraquiano) - Perdemos todos os dias em média 50 a 60 pessoas em todo o país, se não mais - se isto não é uma guerra civil, então Deus sabe o que é uma guerra civil









Definitivamente, ninguém sabe muito bem o que se passa no Iraque. Apenas os soundbytes diários que nos dão conta de atentados sem fim. Vítimas lembradas durante 30 segundos para serem rapidamente esquecidas. Pessoas sem cara, sem família, sem escolha...
Todos os conceitos, pomposamente relembrados pelos americanos, da infalibilidade do Nation Building vão falhando. As constantes referências ao sucesso alemão e japonês já não pegam. O Iraque não é, nem nunca foi um país homogéneo. A identidade nacional foi construída sobre a repartição dos dividendos de um estado centralizado e dominado, como se sabe, pela minoria sunita. Dada a oportunidade, outras comunidades tentam agora alcançar o que a história lhes foi negando, com óbvio destaque para os curdos. Só os muito ingénuos ou obcecados podiam pensar numa rápida instituição de lei e ordem pelas mãos de uma potência invasora.

No entanto, para alguns isto não é suficiente. José Manuel Fernandes escreve hoje um artigo no Público onde diz que já se enganou, que se engana e que se pode vir a enganar a qualquer momento. Mas no que toca ao Iraque: não senhor! Todos ainda nos lembramos daquele texto emocionado onde o director do Público chorava ao ver a estátua de Saddam Hussein por terra.
Parece ser uma pessoa de lágrima fácil mas só quando gigantes com pés de barro são derrubados: "Se os erros cometidos no pós-invasão mostram incompetência e impreparação, não mostram que a intervenção não devia ter ocorrido.". Nem mais caro senhor Fernandes: ó vai, ó racha. Vamos pedir mais um pouco de paciência aos que sofreram os abusos de Abu Ghraib, os que todos dias perdem o direito à vida e à grande maioria de iraquianos moderados que, todos os dias, veêm chegar legiões de mártires dispostos a tornar a sua vida num inferno.


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